sábado, 26 de março de 2016

Abraço de um velho tio ainda jovem

O regresso é sempre apreciado por aqueles que na Páscoa rumam aos seus locais de origem, para reviver as memórias encerradas nos corações, que agora afloram novamente com vontade de matar o saudosismo!
Olhar as gentes, principalmente os anciãos, que aguardam ansiosamente pela visita dos familiares e amigos, para os poderem abraçar, acarinhar, beijar!
Se alguns sorriem, outros choram perante a ausência dos filhos, que por motivos justificáveis não podem visitar os progenitores. Temos aqueles que podendo não o fazem, são filhos fantasmas, de coração endurecido, cujo sustento reside na busca desenfreada pelos bens materiais, abandonando aqueles que lhes deram vida e que apesar de tudo ainda os amam.
As lágrimas cristalinas de uns, são coros de trevas noutros, de tristeza visceral, de dor insuportável, que os ceifa à vida já de si frágil.
Que cães são estes, que até os canídeos desprestigiam. Seres abomináveis que desprezam os pais, os tios, os amigos, todos … olham apenas para eles próprios. Aliás olham para nada, são umas bestas quadradas uns filhos de uma mãe pura que foi conspurcada por seres horrendos nos quais se tornaram.
Os lares vivem proliferando de maravilhosos seres, abandonados por muitos, mas amados por outros. Não sendo nossos pais, são nossos conhecidos, nossos irmãos na terra, seres que merecem o nosso carinho, o nosso amor! E tão radioso que é ver aqueles sorrisos enrugados, até babados, desses bebés crescidos, que vivem dependentes daqueles que os tratam.
Como me choca a postura de todos os energúmenos, insensatos, insanos, demoníacos, seres queimados nas inteligências que já povoaram, mas que ali já nada têm, ruminando pelo mundo olhando apenas para a frente, mais burros que os burros, sim pois nada mais são que isso seres se duas patas transformadas em quatro – bestas quadradas, sem valores, inócuos, vazios, vivem de expedientes de cobardia, espoliando os bens de quem deveriam amar!
Mas o mundo de “merda” em que vivemos pode ser mais belo, desde que cada um faça do seu mundo um mundo aprazível, onde todos aqueles que o visitam desejam também habitá-lo, ou de criar também um mundo onde o amor prevalece.
O bem que me soube o abraço daquele velho tio, tão jovem de espírito, que vive sobrevivendo, com a perda da sua amada. Sim eram puros esses sentimentos, mesmo em idades tão avançadas, viveram harmoniosamente, com as suas manias, até que a morte ceifou aquela que ele amava.
Admiro-o, sou tão pequeno … como gostaria de ter esta força. Mesmo agora, não a tenho. Os tempos idos talvez fossem mais puros, mais revigorantes. 
Agora o ar é mais rarefeito, mais pesado, mais irrespirável …
Dirão que foi só um abraço de um sobrinho a um tio. Não! Estão enganados, é mais que isso é um amor familiar, algo que aprendo a apreciar desde catraio, desde o tempo em que comecei a ter consciência do que me rodeava e de quão valiosos são esses sentimentos para a formação humana.
Experimentem abraçar os vossos pais, olhar nos olhos, dizer o que sentem, acarinhar as suas rugas, serem agora os pais de quem foi vosso pai … é o mínimo que vos é exigível. Tratem deles, tratem de vós, das vossas almas, da vossa própria salvação. Não perante Deus, mas principalmente perante vós próprios.


João Salvador – 26/03/2016

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