quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Valpaços - Festas de Nª Srª da Saúde 2014

Fica aqui o programa das grandiosas festas da Nossa Senhora da Saúde que se realizam em Valpaços entre os dias 30 de Agosto e 07 de Setembro. 


Fonte: http://valpacosnoticias.blogspot.pt/2014/08/valpacos-festas-de-n-sr-da-saude-2014.html?spref=fb

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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Memórias roubadas

A vida esconde em si muitos prazeres e alegrias. O viver é já de si uma graça divina ou do acaso que nos permite contemplar o nosso próprio ser.

O respirar, o cheirar, o sentir a brisa do vento fresco a bater na face, os banhos de sol … tudo isso desse ser absorvido, pois cada momento é mágico e único!
(Na bica de Sanfins com 5/6 anos)

Assim o são as memórias, algumas mais doces, outras mais amargas. Memórias algumas que não são nossas e que não conhecemos, que rezam nos livros de história ou na memória dos anciãos.

O nascimento é um momento de júbilo e de alegria. Os pormenores do nascimento de uma criança são sempre eloquentes e apreciáveis. 

Faz 41 anos que nasceu uma criança numa aldeia do interior, cuja semente germinou de um amor separado pela morte, mas que perdura na existência deste ser que narra estas palavras.

Estava contemplando a bica, onde jorra a água límpida que sacia a sede dos residentes e que outrora serviu de vigia e consolo aos namoros que ali brotaram. 

Estando imbuído nas minhas memórias, deambulando pelos olivais, pelos silvados, pelos pinhais e pelos lugares das lembranças ali vividas, quando surge a Dona Maria, senhora emigrada em França há 42 anos.

O seu rosto sorridente, não esconde as rugas que se passeiam orgulhosamente no seu rosto, sulcadas pela vida e pelos caminhos que trilhou. Vive hoje martirizada e presa a um fardo a que a vida a votou, mas que carrega com tenacidade e com uma coragem desmedida!

Entabulei diálogo, recordando memórias dos tempos em que visitava a aldeia e quando eu ainda ali habitava, recordando-os com deleite!

Notei uma certa mágoa no seu rosto, desmistificada pela mudança nas personalidades dos mais próximos e até dos vizinhos, espelho dos tempos conturbados que se avizinham em que os valores humanos ferem e cortam corações sedentos de carinho …

Recordou-me através das suas palavras aquele dia soalheiro de Agosto de 1973 (do qual não me lembro naturalmente) quando me viu nascer. 

Pormenorizou a azáfama da parteira que gritava ordens em todas as direcções, aguardando pelo capricho da minha saída para a luz, abandonando o consolo do ventre materno.

Os suores, as dores suportadas por aquela guerreira que deu vida a este ser, parindo em condições precárias mais um filho que deve a sua existência a uma semente de última hora. Nas suas palavras vi o nascimento de mim mesmo, um pequeno ser enrugado, ensanguentado mas uma dádiva divina, uma vida! 
(Imagem retirada da net)

Nesse mesmo dia apagou-se a luz da alma da D. Augusta e acendeu-se outra que vive hoje agradecendo aquela mãe a vida que trouxe ao mundo!

Sem ela não teria sentido o gosto da existência, não conheceria os aromas, os amores, os desamores, a alegria, a tristeza, os sons, a beleza das palavras, nem estaria certamente sentado na varanda olhando o horizonte recortado pelos montes escrevendo estas palavras.

Todos nascemos e como tal o espírito de partilha deve prevalecer. O dom da vida é em si algo maravilhoso, grandioso e divino, pois além das almas que germinaram na nossa existência, somos seres pensantes que amam e choram …

João Salvador – 20/08/2014

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Amoras Silvestres II

Após regressar de mais uma manhã de trabalho agrícola que se desenrolou na “Olga”, resumido ao corte de um castanheiro e alguns galhos dessas árvores, atacados pela doença que lhes extrai a vida pelas raízes secando-os e do arranque de algumas ervas daninhas prejudiciais às terras, era hora do regresso a casa.

Nessa manhã o céu apresentava-se límpido e soalheiro, bailando o sol pelo azul do céu convidando à meditação e ao amor pela exuberante natureza que me rodeava.

Os castanheiros e as árvores de fruto vestem-se de verde, revestidos os castanheiros pelos ouriços que crescem imponentes.

As macieiras e as pereiras exibem-se carregadas com frutas suculentas de cores hipnotizantes que apetece devorar.

Muitas dessas árvores de fruto foram plantadas junto ao ribeiro de onde é utilizada a água que lhes mata a sede e lhes dá aquela frescura tão bela, embelecida pelo vento que levemente lhes agita a folhagem dando-lhes a agilidade de uma bailarina.

Nesse regato a água é pura, bebível e com sabor agradável, mirando-se no seu leito plantas de um verde multicolor e ainda alguns répteis amistosos que por ali vivem a sua parca existência, mas seguramente felizes e agradecidos pela sua passagem por este mundo.

No trajecto desde a “Olga” até casa, deparei-me com os silvados que vestem as partes laterais dos caminhos, apresentando-se decoradas com as amoras silvestres de vários tamanhos, formas e cores. Algumas completamente pretas e maduras outras vermelhas e ainda não comestíveis.
As próprias silvas são de espécies diferentes sendo que algumas produzem amoras maiores e mais suculentas, com um sabor bastante adocicado e delicioso!

Havia já aflorado neste blog o tema relativo às amoras silvestres, mas perante a beleza de tal visão a superabundância de tão majestoso fruto, decidi deslocar-me à residência onde estava hospedado no intuito de recolher o maior número possível deste presente silvestre para meu deleite e dos meus familiares.



Outro dos propósitos era também retratar as silvas vestidas com as suas folhas e decoradas com as amoras, bem como exemplificar como se faz uma “camboeira” coisa que os mais novos desconheciam.

Tal método era usado antigamente principalmente pelos jovens para acondicionar e transportar as amoras que mais tarde consumiam.

Se assim o pensei, logo o fiz e deslizei pelo caminho que passa junto à igreja de Santiago, munido de um recipiente, seguindo em direcção à vinha.

Para meu espanto partes do caminho havia sido privado das suas silvas, encontrando-se limpo para permitir a passagem de pessoas, animais e veículos para os campos agrícolas, suspeitando que iria ver o meu trabalho de recolha mais complicado, o que acabou por não se verificar.

Felizmente a meio do caminho deparei-me com um manto de silvas impregnadas de amoras silvestres que davam a essa manta uma beleza peculiar, ondulando suave e caprichosamente ao sabor da brisa leve e fresca que se fazia sentir no momento.

Inicialmente enchi um recipiente, com uma calma fugaz, captando a beleza que me rodeava, olhando os campos lavrados, os soutos limpos, os olivais vaidosos, sentindo os aromas que percorriam o ar, espalhados pela brisa do vento e que me inundava saudavelmente os pulmões!

O método para apanhar amoras é simples e nada complexo, apenas deve ser feito calmamente para evitar os picos das silvas para não se picarem, ainda que a dor seja mínima.

Alguns desses picos agarram-se teimosamente à roupa ou à pele e tornam-se incomodativos mas toleráveis. Ao mesmo tempo que colhia os diversos tipos de amoras – nestes silvados descortinei apenas dois tipos, ia saboreando ao mesmo tempo algumas mais maduras que se desfaziam na boca sem esforço, sentindo escorrer o líquido que engolia com deleite.

Como referi ao contrário do que possam pensar as silvas diferem, podendo encontrar-se algumas diferentes, assim como o são naturalmente o seu fruto – as amoras. Diferem de tamanho, de textura, de aroma o que pode ser comprovado também através do sabor que é ligeiramente diferente.  

Dá um gozo especial comer algumas amoras ao mesmo tempo que as colhemos e somos vigiados pela mãe natureza que sorri perante este quadro pitoresco e rural, que completa com o chilrear de alguns pássaros – pardais, melros e outros, que poisam nos castanheiros e noutras árvores que me abraçam carinhosamente num envolvimento maternal.

Fui recompensado pelas brisas libertadoras que me purgaram por momentos a alma, limpando-me de pensamentos negativos, levantando no caminho poeiras separadas da terra seca que bailaram num redemoinho em forma de funil e que logo se esfumou.

Caminhei de regresso a casa mais leve levitando pelo prazer do contacto e da cópula com a natureza que me fecundou mais uma vez a alma, alimentando-me o prazer e o gosto de estar em contacto com a terra.

Segui animado pelos raios de sol, que rasgaram as parcas nuvens cinzentas que envergonhadas se retiraram sumindo-se dando lugar apenas ao rei sol.
Munido das amoras e das palhas secas, imprescindíveis para fazer as camboeiras, escolhi as amoras com melhor textura, escolhendo ainda as maiores, mais resistentes e mais suculentas, espetando uma a uma na palha, arrastando-as até ao limite da mesma, onde repousavam prontas a ser consumidas, até ao limite superior ficando a “camboeira” concluída.






Após terminar a camboeira guardei as amoras no frigorífico para ficarem mais frescas, conservando-lhes as suas propriedades, podendo depois consumi-las com iogurte ou sem acompanhamento.

Exibi as camboeiras aos mais jovens que ficaram assim a saber como se fazia uma camboeira e a razão pela qual antigamente os jovens as faziam …

Enfim pequenos prazeres campestres que recomendo a todos vós!

João Salvador – 10/08/2014