sábado, 7 de junho de 2014

Tributo ao “Ti Alípio” – Homem de todas as eras


Deambulava como o faço frequentemente pelo facebook, visitando algumas páginas que me dizem muito, quando visualizo algumas fotografias do álbum Primavera 2014, alusivas a uma caminhada promovida recentemente pela Amizade UCD Sanfins.

Como não podia deixar de ser, fiquei mais uma vez maravilhado; extasiado; melancólico com a beleza da natureza paradisíaca que ladeia a minha aldeia natal e as terras limítrofes que com ela confluem.


Um verde arrebatador; árvores (macieiras; amendoeiras; giestas, etc) vestidas de flores vaidosas, com cores apelativas e perfumadas, cujo cheiro libertador percorre a nossa imaginação e os nossos sentidos. Apesar de não as sentir presencialmente, sinto-as nas minhas memórias de catraio, quando corria pelos montes e vales da aldeia, em brincadeiras sem fim, sorvendo com prazer ingénuo o aroma libertado pela mãe natureza que antes não valorizava com tanto gosto, como agora o faço, mercê das saudades que me provoca!





Foi agradável mais uma vez ser brindado pelas fotos captadas com essência pelo meu conterrâneo Paulo Alves, dos caminhos e riachos límpidos que ainda ali correm, sem conspurcação do ser humano. Água que pode ainda beber-se, sem receios, saboreando ao mesmo tempo o céu angelical com que nos premeia o nordeste transmontano.




Nessas fotos que visualizei houve um pormenor que me tocou. Já havia aqui escrito uma crónica sobre os pastores em geral sobre os da minha aldeia em particular. Tema que sempre me foi muito querido, pois em criança tive sempre uma proximidade afectiva com os animais domesticados e que frequentemente cruzavam a aldeia para os pastos.

Numa dessas fotos visualizei o “Ti Alípio”, montado num equídeo (não consigo perceber se é uma égua ou uma mula) olhando para o horizonte, onde se vê a silhueta de terras Valpacenses e da aldeia que me vi nascer: ali fui muito feliz; chorei; ri; namorei …fiz-me o homem que sou hoje, cheio de imperfeições, lutando diariamente para ser um ser justo, respeitador e respeitado!




No alto do monte em cima do animal, ali está o “Ti Alípio”, outrora além de pastor e negociante de gado, conhecido em muitas regiões do país nas feiras onde regateava preços com muita perspicácia, havendo ainda filhos que lhe seguem os passos …no caso o meu bom amigo David Cavaleiro.




Um quadro bucólico e de uma força brutal; um homem cavalgando nos seus oitentas, sentado firmemente na albarda, comandando a pastorícia ruminante das suas ovelhas, guardadas pelos cães já de si muito treinados nestas lides!

Ó homem de coragem, que lutador … envergonha toda uma geração de doutores e preguiçosos que proliferam por este país fora.

Que Deus dê força a este homem para que quando a morte o abraçar o faça com suavidade e dignidade …


João Salvador – 07/06/2014
Fotos retiradas da página/álbum:

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