domingo, 17 de fevereiro de 2013

O Guardador de rebanhos


Numa das minhas curtas idas a Trás-os-Montes, após subir a maravilhosa serra da Padrela, cujo cenário paisagístico é contagiante, fui-me deleitando com o verde dos campos e com o cheiro das terras aradas pelos agricultores locais.

Passava mergulhado numa quietude, que me apazigua a alma, uma terapia para os problemas que logo ali se esbatem, quando me deparei com um rebanho de ovelhas na estrada que liga Sobrado a São João de Corveira, guardado por um pastor devidamente agasalhado, munido do seu cajado.

Logo estaquei e me pus a admirar tão bucólico cenário, juntamente com a família que me acompanhava. Estes quadros naturais são de uma riqueza imensurável, e inestimável, que devemos guardar nas nossas memórias, pois no meu caso fizeram parte da minha infância (Tive já o prazer de escrever uma crónica a respeito dos pastores da minha aldeia, que podem reler aqui no blog).

Foi enriquecedor, ver o sorriso daquele pastor, uma pessoa simples e humilde, que guardava as suas ovelhas junto à estrada e que de uma forma natural nos premiou com o seu sorriso e simpatia.

Logo se prontificou a falar um pouco sobre a criação de gado ovino e caprino, as rotinas diárias, os sofrimentos do dia-a-dia, a forma como negociavam e os locais, quer a venda dos queijos quer da carne; falou-nos sobre a feira de São Brás, que decorre anualmente naquela freguesia, onde o visitante pode adquirir vários produtos regionais e conhecer um pouco a vida pacata daquelas localidades.

Foram apenas alguns minutos, mas posso assegurar-lhes que aquele homem, com pouca formação escolar, tem uma formação humana e uma educação que muitos de nós nunca conseguirão alcançar, mercê da pureza de tão nobre coração. Não vi nele uma ponta de inveja, de frustração, ou qualquer sentimento negativo, aceita simplesmente a vida conforme ela é! Foi daqueles que preferiu a vida campestre à emigração, sabendo que viveria sempre humildemente. Senti-me envergonhado perante tanta nobreza de espírito, um homem lutador que envergonharia os maiores demagogos do nosso país.

Logo tive um pensamento e um alívio. Fiquei feliz pelo facto de a pastorícia ainda existir no Nordeste Transmontano, apesar de os pastores serem cada vez em menor número.

Preparava-me já para reiniciar a viagem quando o pastor, olhando a face maravilhada da família, me disse se quiser esteja à vontade: “capte a verdadeira natureza dos campos, da natureza, dos animais e das suas gentes”, o que fiz com a sua devida autorização. Tirei fotos aos campos e às ovelhas que pacificamente por ali iam ruminando as ervas que nasciam no souto, guardadas pelos canídeos.
O quadro não ficaria completo sem a foto do pastor, pelo que lhe pedi se não se importava que o fotografa-se, simplesmente sorriu amavelmente e deixou-se à vontade para o fazer.
O resultado são as duas fotos que junto a esta pequena crónica de viagem.

Como podem “ler” (façam-no com alma e sentir-se-ão como eu no momento), viajei naqueles instantes ao que de melhor tem o ser humano …

 (Rebanho de ovelhas a pastarem no Souto)


(Foto do pastor credenciado com "carteira profissional", tirada na escola da vida)


João Salvador - 27/12/2010

In: Crónicas de um homem do norte - http://joaogomesalvador.blogspot.pt/

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