terça-feira, 23 de outubro de 2012

Sofrimento alheio



(Poderia ser o seu pai "digníssima" - ou nem tanto assim)

Poderia dissertar sobre o tema infinitamente
Apenas farei um reparo na falta de sensibilidade e de confiança que certas elites da magistratura têm por aqueles que têm obrigação de os coadjuvar em determinados aspectos laborais.
Casos sucessivos (diários) em que pessoas indefesas são alvo da cobiça alheia os quais utilizando estratagemas estudados, escolhem as suas frágeis vítimas subtraindo-lhes e expoliando-as do parco sustento aligeirando-as dos seu haveres. Pessoas que têm rosto (não se trata de máquinas mas de seres humanos) e que sofrem. Pessoas que nos tocam o coração pelo desamparo e sofrimento de que são alvo infligido pela inacção de algumas instituições; pela gula dos meliantes ou pela ganancia e abandono das próprias famílias!
Situação gritante a nível social, tendo muitos de nós (todos) o dever de as proteger, (reprimindo veementemente os prevaricadores). Mas tal ou não se verifica  ou acontece tardiamente quando a sanidade mental acaba por se agravar por episódios traumatizantes. 
Simplesmente verifica-se nalguns casos que quem decide age com uma frieza arrepiante; não actuando, colocando em causa a palavra de pessoas idóneas; profissionais, com provas dadas que abraçam com amor a profissão, que dão como garantia o seu trabalho e a sua palavras para a resolução desses problemas que urge resolver e que não se coadunam com determinadas decisões absurdas. Tais demoras contribuem para o arrastar e agravamento desses problemas, continuando esses cruzados a dar a cara em situações delicadas convencendo quem sofre que brevemente tudo se irá resolver.
Como se explica a pessoas debilitadas psicologicamente e fisicamente que não se actua … porque quem o deve fazer coloca entraves injustificáveis a quem lho solicita? 
Meros caprichos que não se coadunam com as demoras e os pesadelos sofridos pela escuridão da noite que envolve os traumas da fragilidade dessa gente!
Sim, fico estupefacto com determinadas decisões … a falta de experiência de quem deve decidir deve ser sanada, talvez com uma visita ao sofrimento alheio e à realidade da rua, talvez assim se sensibilizem ou quiçá sejam sensibilizados quando atingir os que lhe são próximos (o que não se deseja naturalmente). 
Perante este cenário que mais se pode oferecer senão a compreensão e o sorriso para quem sofre as intempéries da vida e a insensibilidade dos seres?
Onde está a sensibilidade e o profissionalismo desta gente? 

Simplesmente sinto uma REVOLTA pela falta de humildade; pela frieza; pela irresponsabilidade, roçando a inércia (e outros aplicáveis) ... assim vai o poder decisório neste país!

“Ante um sofrimento alheio um sorriso já é um bálsamo” 

João Salvador – 22/10/2012

sábado, 13 de outubro de 2012

As Castanhas e os bailes


   
O fim-de-semana tardava em chegar, estava ansioso deambulando pela minha mente, aguardando a ida para terras de Carrazedo de Montenegro.

O Outono havia já chegado, premiando-nos com as primeiras chuvas e com o cair das folhas, que abandonavam as árvores cobrindo o solo num manto.

O ar frio apossava-se das terras Valpacenses, obrigando os seus habitantes a retirarem os seus casacos e capotes dos armários, para assim combater as intempéries e rigores que se avizinhavam.

As castanhas já crescidas e prontas a serem colhidas, caiam amadurecidas no solo, sozinhas ou dentro dos ouriços, esperando serem recolhidas pelas mãos dos jornaleiros ou dos próprios proprietários dos soutos.

(Apanha da Castanha)



(Castanhas nos ouriços)

Um baile diário que exige visitas regulares aos soutos aveludados pelas ervas que por ali serpenteiam, à espera de serem ruminadas pelos rebanhos de gado.

Na época das castanhas as gentes do Norte faziam bailes aos fins-de-semana em várias aldeias, celebrando a partilha, permitindo aos trabalhadores um pouco de diversão e convívio.

Ainda é possível nos dias de hoje ir-se a um baile das castanhas no interior do país, ainda que cada vez sejam menos frequentes. Tal acontece mercê do envelhecimento da população e pela cada vez mais escassa mão-de-obra, que por força desse factor está a dar lugar à mecanização.

A juventude abandonou na sua maioria o interior, fugindo de uma vida dura e escrava, apagando a vida que polvilhava as aldeias e consequentemente os bailes que se vão extinguindo para meu desalento, perdendo-se aos poucos as tradições por vezes seculares que sempre alimentaram o sorriso das terras do Norte.

Eram tempos em que eu ainda jovem (apesar de não me dedicar à apanha da castanha, já que na minha aldeia essa cultura era praticamente inexistente), rumava às terras frias de Carrazedo de Montenegro, deambulando pelas aldeias (Vilarinho do Monte; São João de Corveira; Padrela, etc) à procura de diversão. Ali encontrava colegas de escola e conhecia muitos jovens da minha idade com os quais ria com uma inocência já perdida. Naturalmente que estava sempre à espreita de um par para dançar. Adorava dançar, era algo que me fazia abandonar as preocupações e flutuar pela vida como se fosse leve e livre de problemas. Nesses momentos tudo era esquecido, centrando-me no belo sorriso das belas mulheres transmontanas.

Tive os meus “namoricos” que se guardam na memória, uns doces outros mais amargos, digamos que “ experiências vivenciadas intensamente”.

As horas passavam rapidamente ao som das músicas que saiam das colunas de som instaladas em armazéns ou garagens improvisando-se um salão de baile (de quando em vez lá vinha um conjunto para animar a malta). O mais curioso era o bilhete de entrada que ocasionalmente não existia. A solução era um carimbo que colocavam na mão, assegurando que quem entrava no baile pagava e caso quisesse sair poderia fazê-lo pois tinha “a marca” na mão. Achava aquele costume estranho, usualmente utilizado na aldeia da Padrela – Valpaços, sentia-me um pouco como o “touro” que é marcado. Bom, mas o importante era mesmo divertir-me e a verdade é que adorava aqueles momentos. Apesar de ser tímido sempre ganhava coragem para convidar uma moça para dançar. Já alguns dos amigos que me acompanhavam dedicavam-se mais às “loiras” (cerveja, por norma Super Bock). Como costumo dizer cada um é feliz à sua maneira …

Hoje pergunto-me se voltaria a fazer o que fazia: sair de casa pelas oito da noite, com um frio intenso, todo penteadinho (que logo estragava com o capacete – nada que um pente no bolso não resolvesse), devidamente perfumado, cinto de fivela, calça de ganga, camisa e casaco a condizer (bem a verdade é que procurava ter esse cuidado para estar apresentável), e depois de pronto, lá seguia eu na minha mota uma Zundapp modelo X-F17” (ciclomotor de 50 cm3) até ao destino. Quando chegava, havia dias em que estava completamente enregelado, necessitando de algum tempo para aquecer o corpo e sair daquele estado.

Bem, quando se é jovem não se pensa no frio, o importante era ir ao baile e encontrar uma mulher bonita para conversar, dançar e quem sabe namorar!

Como disse a minha terra pertence já à denominada terra quente, prevalecendo a cultura da vinha e da oliveira, tendo a castanha um papel quase insignificante. Como os bailes já ali não eram usuais, deslocava-me para a terra fria …

Foram bons tempos sim senhor! Boas amizades; boas recordações e boa gente e claro, boas castanhas!



(Castanhas num cesto - foto Vítor Loureiro)

Recomendo veementemente uma visita a Carrazedo de Montenegro, terra de castanha de qualidade. 


João Salvador – 13/10/2012