O enterro do moleiro foi triste, chorando os
filhos e a mulher copiosamente, com uma intensidade de cortar o coração. As
pessoas apiedaram-se, comentando em surdina a má sorte que tiveram.
O Tó estava muito constrangido, recordando-se
da conversa que horas antes tivera com o moleiro – apesar de saber que a vida
era apenas uma curta passagem para a morte (Do pó nasceu para o pó voltarás).
- Viste Zé, parece que ele já sabia que ia
morrer.
- Triste sina amigo Tó. A morte expia-nos a
cada esquina.
- Dizem que morreu de ataque cardíaco.
- Não sei, a verdade é que se foi para sempre
um homem de bem.
- Aproxima-se agora uma luta muito grande
para a mulher. Com quatro filhos nos braços, não lhe vai ser fácil!
- Pois era esse o maior fantasma que
atormentava o moleiro …
A urna era de pinho, repousando ali o corpo
sem vida, desprovido do espírito e da alma de tão nobre senhor. A sua face
irradiava serenidade, ainda que fosse apenas aparência. A mulher olhou-o pela
última vez procurando no seu rosto e nas sua memórias forças para uma batalha
que se aproximava … a luta pela sua sobrevivência e dos seus filhos!
E assim seguiu o cortejo fúnebre do moleiro,
em direcção ao cemitério da aldeia, após a missa. Havia-se extinguido a vida,
cuja alma foi entregue às mãos de deus, como o são todas as almas desde os tempos da criação e
da existência da humanidade.
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