terça-feira, 14 de agosto de 2012

Adulteração do Património Cultural



O património cultural de uma nação é em si a sua própria identidade. É através dele que a nossa história é contada e relembrada. O cuidar desses tesouros é um dever de todos nós, pois o respeito pelos nossos usos e costumes ancestrais devem ser recordados e preservados com orgulho!
Quando um monumento; edifício ou bem cultural necessita de ser restaurado ou alvo de intervenção, a mesma deve ser feita por pessoas devidamente credenciadas para o efeito, pois caso contrário verificar-se-ão eventuais alterações ao património cultural na sua estética visual, que ferirá de morte a originalidade do bem que temos o dever de preservar.
Não direi que os responsáveis por tais atentados ao nosso património cultural o façam intencionalmente, com qualquer outro propósito (pois poderia ser interpretado como ofensivo), mas denota uma total falta de conhecimento nessa vertente, ou mero desleixo. Não se procuram arquitetos como o Siza Vieira, nem tão pouco sejam especialistas ou versados na matéria, mas tão só rigor prévio nas avaliações das intervenções que se querem fazer no património cultural de uma aldeia; vila ou cidade.
Situação há que são remediáveis, outras infelizmente são efetuadas com uma negligência tal que não é mais possível repor a originalidade do património.
Tenho notado nas minhas curtas viagens ao Norte de onde sou natural, que algum património tem vindo a ser alvo de intervenções, sem que os responsáveis se tenham assegurado que essas mesmas intervenções, não alterassem a originalidade e os traços arquitectónico-culturais desse património.
Desde lavadouros públicos; até chafarizes, incluindo edifícios como igrejas e capelas, tenho notado o desleixo com que as obras são feitas quer não apenas na parte estrutural mas também acrescentando pormenores arquitetónicos desadequados aos locais, o que muito me entristece.
Seria pertinente que antes de tais intervenções desadequadas feitas um pouco à moda do “fazer para mostrar obra”, fossem objecto de análise e estudo para se aferir de que maneiras podem ser efetuadas sem adulterar os seus traços. Além de que muitas vezes se tratam de intervenções profundamente desnecessárias, bastando nalguns casos uma limpeza profunda e metódica dos edifícios ou ao património cultural (dependendo do objeto alvo).
Questiono por exemplo o caso de um lavadouro público, colocado numa zona rural, constituído por pedra (penso que de granito), se será relevante a colocação de pilares que fazem lembrar um pórtico militar, sem qualquer tipo de utilidade, nem sequer para cobertura? 
Naturalmente que destrói a originalidade do lavadouro (onde gerações de mulheres rurais lavaram as roupas de seus familiares e onde as notícias da aldeia eram amplamente afloradas), desde logo porque fica desenquadrado da natureza e da estética do mesmo e em segundo lugar os pilares são feitos de betão, o que o torna um mamarracho e um convite à banalização de obra para “mostrar à vista” sem qualquer propósito e com custos para o erário público.
Pede-se aos responsáveis locais que se preocupem mais com o património cultural, pois a preservação requer bom-senso e um certo conhecimento nessa matéria.
As nossas memórias são a nossa história e a nossa história faz-se do que herdamos dos nossos antepassados, que merecem o nosso respeito, honrando o património por eles deixado, preservando-o nos seus traços originais e não adulterando-o!

João Salvador – 14/08/2012

Sem comentários:

Enviar um comentário